Yorgos Lanthimos

O cinema é um espelho. Ele reflete seu criador, quem ele é ou gostaria de ser, seus desejos, receios, o meio que o circunda e no que acredita. Além de exercício da vaidade, também é instrumento de críticas e denúncias sociais. Distopias apesar de retratarem um modelo de sociedade que não existe (ainda) é um dos recursos utilizados pelos diretores como forma de criticar a natureza humana. O comportamento humano é sempre explorado, seja em primeiro plano, sendo o foco do enredo, ou em segundo, já que é impossível desassociar um indivíduo a sua conduta. Metropolis (1927), Fahrenheit 451 (1966), Persona (1966), Laranja Mecânica (1971), O Senhor das Moscas (1990), Cisne Negro (2010) são exemplos de produções que têm como ponto central retratar características comportamentais.

De uns anos para cá um nome vem se destacando no cinema pelo seu olhar peculiar sobre o ser humano. Yorgos Lanthimos, um diretor grego de 44 anos, começou a ter visibilidade em 2010 quando o seu filme Dente Canino foi indicado ao Oscar na categoria de melhor filme estrangeiro e foi condecorado pelo Un Certain Regard, no Festival de Cannes. A obra foi a primeira de uma sequência de trabalhos que são marcados por personagens robóticos inseridos em um contexto bizarro, o que nos faz crer que o diretor é simpatizante do Behaviorismo, onde o comportamento é resultado da relação entre o indivíduo e seu ambiente físico, químico e social.

Colin Farrel e Rachel Weisz em O Lagosta.

Planos de câmera mais abertos, o uso de cores mais opacas e diálogos mecânicos garantem uma atmosfera fria, o que pode sugerir uma monotonia na narrativa, mas que é quebrada por uma situação extrema e comportamentos inesperados acontecem, provocando curiosidade no espectador. Esses elementos fazem parte do estilo do diretor e contribuem para nos colocar na posição de reais observadores e analistas dos acontecimentos, cuja ética e moral são discutidas. É certo que a principal emoção que os filmes do cineasta causam é estranhamento, mas o objetivo não é criar um desconforto apenas pelo sentir, mas o coloca como consequência de uma reflexão.  Apesar das histórias serem difíceis de digerir, a maioria de suas produções recebeu indicações em vários festivais importantes. O Lagosta, a obra que mais foi indicada a prêmios, conta a história de uma sociedade distópica, na qual é proibido ser solteiro. As pessoas sem parceiros são presas e levadas a um hotel, onde é determinado um tempo máximo para encontrarem um par. Caso isso não aconteça, elas são transformadas em um animal de sua escolha. O artificial se contrapõe ao natural, manifestado pelo instinto, como acontece também em Alpes (2011) e o Sacrifício do Cervo Sagrado (2017).

A lucidez e singularidade na maneira como a análise social é conduzida é o que chama mais atenção nos roteiros do diretor grego. Quando se trata de Lanthimos não tem meio termo, ou você ama ou odeia.

Texto: Gabriela Morais

 

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