Não é novidade para ninguém que a influência da economia sob todas as ramificações comerciais é desmesurada. O que nem todos percebem é que não é só porque você deixa de comprar que deixa necessariamente de consumir. Todas as vertentes do seu dia-a-dia sofrem mutações necessárias para a adequação de um novo cenário, e esse cenário, apesar de significativamente decadente, é essencialmente novo e inspirador. A reinvenção do guarda-roupa que antes era eventualmente necessária, hoje é vista como o ponto de partida. Jeans destroyed, nó na blusa, patches na jaqueta, camisetas cortadas e transformadas em regatão, cropped e em diferentes recortes são vistas com frequência desde o dia em que a necessidade de renovar para inovar tornou-se corriqueira. O consumo ficou consciente e o que você viu na rua virou inspiração. O streetstyle agora é o seu desfile ao vivo, onde a interação com a realidade que envolve todas as classes é mais interessante do que o que uma passarela elitista tem a dizer.
Desde 1920, Chanel lança e relança sapatos clássicos, elegantes e bicolores. Em 2014, Chanel lançou seu primeiro tênis. As fashionistas low-key que, em 2013, já apostavam nos tênis running combinados com roupas não necessariamente esportivas foram indubitavelmente a inspiração de Lagerfeld, e seu legado como gênio foi ainda mais engrandecido por ter vislumbrado a rua como fonte de inspiração. O enraizamento da tradicionalidade foi comprometido pelo freshness da contemporaneidade. Esse foi um dos acontecimentos que formam a conclusão de que o ciclo da moda não é mais ditado pelos estilistas. Hoje, a garota classe média do Brooklyn que diz que os anos 90 é legal e o garoto paulista que pega a peça oversized que a tia usou nos anos 80, são os que dizem que aquilo pode entrar em circulação novamente. Desse modo, o abrangimento de novos ciclos também enaltece a necessidade da integração dos novos status trazidos pela sociedade. A roupa sem gênero, por exemplo, que nasce com um corte mais reto e tem, por sua vez, o mesmo corte daquela mom jeans que sua mãe guarda há anos, pode ser resgatada e abraçada como uma peça vintage, porém significantemente nova para o momento da sua vida. A união desse antigo com o novo, tecidos surrados com tecidos tecnológicos e recortes retos com modelagens geométricas são o novo pretinho (não tão) básico do século 21.
Não se sabe ao certo quando a oscilação da moda teve seu início, mas a certeza que o streetstyle é o novo fashion week ao céu aberto é uma incontestável verdade. Os cortes foram reestruturados e a bagagem de cada item foi renovada, as transformando em novas peças. A alfaiataria que o diga. Sua tradicionalidade de alguns anos atrás já não é mais símbolo da sua dramaticidade moderna e atual, e isso a faz, juntamente com o jeans e a camiseta branca básica, uma das peças mais versáteis da história. Se você está usando um moletom que usa para dormir como peça para sair, agregando valor a ele a partir de acessórios, por que não usar uma camiseta branca para ir a um casamento tornando-a conjunto de uma saia maravilhosamente bem cortada, estruturada e nobre? Lembrar que o significado de uma peça se torna completamente novo quando colocada em junção a outra é o ponto de partida para entender a essência do streetstyle. É definitivamente o novo caminho da moda a ser seguido, onde a diferença de todos os estilos se encontram no mesmo lugar e que, consequentemente, ensina mais sobre respeito pela origem e lifestyle do próximo do que muitos livros enfeitando inúmeras prateleiras por aí.
Texto: Camila Lopes