Mostra Centenário Zanine

No próximo dia 24 de setembro, às 19h, o casapark celebra os 100 anos de José Zanine Caldas, o gênio da arquitetura brasileira em madeira que deixou um legado para a cidade e para o mundo sobre sustentabilidade, preservação ambiental e dos saberes tradicionais construtivos brasileiros. Na Praça Central, a mostra “Centenário Zanine” apresenta ao público 50 maquetes de 11 residências construídas em Brasília pelo arquiteto e reproduzidas por um grupo de pesquisadores coordenados pelos professores Ivan do Valle, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (FAU-UnB), Thiago Turchi e Daniel Brito, ambos da Faculdade de Arquitetura da Universidade Católica de Brasília (FAU-UCB). A exposição conta ainda com fotografias das construções, textos sobre a vida e a obra do arquiteto e um espaço construído com madeira certificada utilizando as técnicas construtivas criadas por ele, onde o público poderá vivenciar a produção de Zanine. O evento de lançamento da mostra contará com a presença do filho, o premiado designer Zanini de Zanine.

A mostra “Centenário Zanine” fica em exibição até o dia 20 de outubro, com visitação de segunda a sábado, das 10h às 22h, e domingo, das 12h às 20h. No dia da abertura, acontece o lançamento nacional do livro inédito sobre o arquiteto e designer “José Zanine Caldas”, de Amanda Beatriz de Palma Carvalho, Lauro Cavalcanti, Maria Cecilia Loschiavo dos Santos, com ensaio fotográfico de André Nazareth. A entrada é gratuita e a classificação indicativa é livre para todos os púbicos. O casapark fica na SCVG Sul Lote 22, Brasília – DF. Telefone: 61 – 3403-5300.

A exposição que abre no casapark apresenta um percurso da obra de Zanine no período que compreende de 1941, quando abre seu escritório de produção de maquetes, passando por pela produção moveleira e sua contribuição para a arquitetura moderna até sua morte em 2001.

Para a realização da mostra, foram necessários cinco anos de pesquisas e produção que envolveram mais de 150 pessoas, entre alunos de professores de faculdades de arquitetura e urbanismo de três instituições de Brasília – UnB, Universidade Católica de Brasília e UniCeub. O projeto de pesquisa contou com o fomento do Fundação de Apoio à Pesquisa do Governo do Distrito Federal (FAP-DF). Nesse período, foram gerados inúmeros artigos para revistas científicas, trabalhos de conclusão de cursos de graduação, teses de mestrado e de doutorado. O grupo realizou o levantamento do número de casas construídas na capital federal, de quantas permaneciam de pé e o estado de conservação delas. “Conseguimos mapear mais de 40 casas, todas em bom estado de conservação. Algumas ainda com seus donos originais. Dessas 25, foram estudadas e fotografadas. Para a exposição, apresentamos as histórias, os projetos, as fotos e as maquetes de detalhes de 11 residências”, afirma Ivan.

Arquitetura para todos

Produzidas em escalas de 1:10, 1:20 e 1:50, as maquetes das casas mapeadas foram feitas em madeira maciça, técnica aprendida com Zanine e até hoje utilizada no laboratório de maquetes da FAU-UnB, e construídas na marcenaria criada por Zanine no campus da Universidade de Brasília. A maquete é uma ferramenta importante para explicar o projeto aos carpinteiros que trabalhavam nas obras. “Com elas, os profissionais podiam ver os detalhes construtivos importantes como, encontros estruturais, escadas, janelas e esquadrias”, ressalta. “A maquete permite que qualquer pessoa compreenda o projeto e entenda a volumetria. Ela permite a aproximação com a obra, sentir a cor e a textura”. Completa Ivan.

Ex-aluno e pesquisador do Laboratório de Modelos Reduzidos da FAU-UnB, que carrega a herança dos mesmos processos de produção e ensino de maquetes que Zanine utilizava, o hoje professor e pesquisador da obra do mestre da arquitetura em madeira Ivan do Valle ressalta a qualidade notória do trabalho do arquiteto no Brasil e no mundo. “A obra traz para o conhecimento do público uma forte e importante discussão sobre meio-ambiente e preservação de florestas. O uso da madeira na construção civil foi relegado a um plano secundário. Zanine, afirma Ivan, acreditava que a madeira deveria ser o principal material de construção do Brasil. “Neste momento em que se discutem as queimadas, é importante lembrar que o uso correto da madeira e manejo das florestas ajuda a preservá-las, evitando a exploração e os impactos negativos ao meio ambiente”, explica o professor. Além da consciência ambiental, Zanine resgatou e repassou a seus alunos conhecimento sobre o uso da madeira na construção civil. “São obras de mais de 40 anos, com excelente arquitetura e muito bonitas”.

Para a mostra em comemoração ao centenário do arquiteto, foi criada a Espaço Zanine, uma construção em madeira de 2,5m X 2,5m onde o público poderá vivenciar uma construção feita com as técnicas criadas por Zanine. Projeto replica uma parte da obra fictícia, onde estão os principais elementos construtivos como, a Porta que vai do chão ao teto, o beiral cachorro – um elemento forte na obra de Zanine que ele trouxe de uma viagem à Ásia e aplicou a todas as suas construções, caibro e forro aparentes e estrutura do vigamento. O beiral acachorrado é uma das chinesices que Zanine incorporou à sua produção e virou uma marca de sua arquitetura, além dos elementos estruturais da carpintaria aparentes, como caibros e do forro que acompanha a inclinação do telhado.

Publicação

Junto com a abertura da mostra “Centenário Zanine”, acontece o lançamento do livro “José Zanine Caldas”, de Amanda Beatriz de Palma Carvalho, Lauro Cavalcanti, Maria Cecilia Loschiavo dos Santos. Publicação bilíngue – português e inglês – da Editora Olhares em parceria com a galeria americana R&Company e o casapark, em 300 páginas o livro passa em revista a trajetória do arquiteto e designer a partir da pesquisa e textos dos autores. A publicação reúne mais de 300 imagens históricas e atuais, com destaque para ensaio do fotógrafo de arquitetura André Nazareth. O livro será vendido no local. Valor: R$ 320,00.

Sobre José Zanine Caldas

Natural de Belmonte, no litoral sul da Bahia, Zanine iniciou a vida profissional como maquetista dos mais importantes arquitetos modernos no Brasil nos anos 1940. Tempos depois, ele mesmo se tornou um expoente da arquitetura nacional, com uma leitura muito particular das influências modernas e tendo como protagonistas a madeira e o saber artesanal. No design de mobiliário, conduziu a experiência da Móveis Z, fundada em fins dos anos 1940, apostando na industrialização para apoiar – e aproveitar – a difusão de um novo estilo de vida trazido pelos ventos de modernidade.

Nos anos 1950, foi paisagista e teve uma loja de vasos e arranjos de flores na Av. Paulista. No final daquela década, mudou-se para Brasília para produzir in loco maquetes dos prédios da nova capital em construção. Foi professor de maquetes na UnB (bem como na USP), mesmo sendo autodidata, e inventou as flores secas do cerrado, ainda hoje um dos souvenires mais tradicionais da capital. Na década de 1970, viveu entre o Rio de Janeiro, onde praticamente inventou o bairro da Joatinga, e Nova Viçosa, no sul da Bahia, onde desenvolvia estruturas pré-elaboradas para seus projetos, que eram montadas e desmontadas antes de viajarem centenas de quilômetros para onde seriam fixadas, e onde produziu uma linha de móveis pesados e esculturas, que utilizavam a madeira descartada no processo de devastação da Mata Atlântica que acontecia na região e eram chamados de “móveis-denúncia”.

Além disso, em sua inquietude, Zanine se envolveu em muitos projetos sociais, pesquisou a fundo o uso da diversidade de madeiras brasileiras e circulou por diversos países – em especial a França, onde teve exposição individual no Museu de Artes Decorativas do Louvre –, estabelecendo trocas culturais e de conhecimento técnico.

Serviço:
Centenário Zanine
Mostra de maquetes, fotografias, textos e Casa Zanine
Coordenação: Ivan do Valle (FAU-UnB), Thiago Turchi (FAU-UCB) e Daniel Brito (FAU-UCB)
Fotos de: Joana França
Inauguração: 24 de setembro, terça-feira
Horário: Às 19h30
Local: Praça Central
CasaPark
Visitação: Até 20 de outubro
De segunda a sábado, das 10h às 22h
Domingo, das 12h às 20h
Entrada: Gratuita
Classificação indicativa: Livre para todos os públicos

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