“A criação tem uma abordagem coreográfica que se apropria da passividade e da inércia normalmente vinculadas ao sono, como uma forma sorrateira de resistir às lógicas impostas pelo cotidiano, a exemplo do produtivismo exacerbado e do protagonismo”, explica Ramon Lima, coreógrafo e performer da obra.
Com classificação de 12 anos, a obra circula em 3 dos principais espaços teatrais do Distrito Federal — Plano Piloto e Gama —, em sua estreia no Brasil, entre os meses de setembro e outubro, com entradas pagas e gratuitas.
Além das apresentações, o projeto oferece uma roda de conversa sobre internacionalização de projetos em dança e uma oficina organizada como laboratório artístico para criações-solo.
Dois mundos
O sono como zona de resistência figura no cerne da obra. Adormecer, em Sonâmbulo, é uma maneira de criar fissuras naquilo que é estável, promover o direito ao corpo.
O corpo que experimenta o sonambulismo existe entre dois estados, ou dois mundos, o do sono e o da vigília. “Regido pelas lógicas de ambos, o corpo sonâmbulo que nos inquieta, é ambíguo e não se submete a apenas uma norma de existência estabelecida. A condição de trânsito e equilíbrio precário faz emergir um lugar de reflexão sobre o que decidimos que é o normal, o possível e o desejável para um corpo”, complementa Ramon sobre a origem da obra.
Nesse lugar, talvez revele-se uma maneira diferente de lidar com as pressões da vida moderna, como o foco exagerado na produtividade e na busca por destaque pessoal. Dormir surge tanto como um ato de resistência a essas pressões quanto um espaço de liberdade e renovação.
Assim, a forma como Sonâmbulo ocupa o palco cria uma ligação direta com o lugar em que a peça é mostrada. Combina características físicas e metafóricas do espaço, encurtando a distância entre a obra e o contexto, permitindo que o público mergulhe profundamente em uma experiência artística, sensorial e política.
Confira a programação completa:
CCBB Brasília — Centro Cultural Banco do Brasil
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Apresentação em 08/09, às 20h, como parte da programação do Movimento Internacional de Dança (MID).
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Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia);
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Bilheteria: online.
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Apresentações em 14, 15 e 16/09, às 20h (sessão extra, 15/09, às 16h).
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Ingressos: gratuitos, mediante retirada de ingresso.
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Espaço Cultural Renato Russo — 508 Sul
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Apresentações em 29 e 30/09, às 20h; 01/10, às 19h (sessão extra, às 16h).
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Teatro: Galpão Hugo Rodas;
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Ingressos: gratuitos, mediante retirada no local, 1h antes da apresentação.
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Roda de conversa em 30/09, de 16h às 18h — Internacionalização de projetos em dança: da criação à difusão.
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Teatro: Galpão Hugo Rodas;
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Ingressos: gratuitos, mediante inscrição online.
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Oficina em 26/09, das 13h às 15h30; 27/09, das 10h às 18h; e 28/09, das 13h às 15h30h — Travessia, desvio, abandono: laboratório artístico de criações-solo.
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Teatro: Galpão Hugo Rodas;
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Ingressos: gratuitos, mediante candidatura online e processo de seleção.
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Classificação: 16 anos.
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Ramon Lima
É bailarino e coreógrafo, cuja pesquisa propõe uma imersão sensível, abordando questões políticas, estéticas e éticas relacionadas à noção de direito ao corpo numa perspectiva ocidental e contemporânea.
No Instituto de Artes de Brasília, estudou Artes Cênicas, entre 2012 e 2016. Em 2019, integrou o Master Création Artistique na Universidade de Grenoble Alpes. Em 2021, criou seu primeiro solo, Protopolis, uma instalação coreográfica que questiona as noções de pertencimento. Em 2023, criou outra instalação MIRAGE, no âmbito do laboratório T.R.I.P, realizado no Le Pacifique – CDCN Grenoble — como parte de um dispositivo para o impulsionamento de jovens artistas emergentes.
Também colaborou com projetos de dança junto à coreógrafa Julie Desprairies, incluindo Actions tropicalistes (2020); Tes jambes nues (2020 e 2021); Les amies de Fontbarlettes (2024). Além disso, contribuiu com a coreógrafa Anne Collod na criação de CommeUne Utopie (2021, 2022 e 2023) e fez parte do projeto La danse des grues (2022), dirigido por Kitsou Dubois.
Em Portugal, Ramon Lima trabalhou como intérprete na última criação de André Braga e Cláudia Figueiredo, Cratera (2023).
Concepção e equipe
O processo criativo teve início em 2022, de modo itinerante em 6 residências artísticas acolhidas em 6 centros culturais de 4 países diferentes: Centro de Dança do Distrito Federal (Brasil), Espaço Cultural Renato Russo (Brasil), RADAR Mechelen (Bélgica), Theater arsenaal (Bélgica), CRL – Central Elétrica (Portugal) e Le Pacifique – Centre de développement chorégraphique national de Grenoble (França).
O espetáculo foi apresentado, em processo, na programação de 3 festivais internacionais: Festival OUTSIDE IN, em Mechelen (Bélgica); Festival 22 VOLTS, no Porto (Portugal); e Rencontres chorégraphiques internationales de Seine-Saint-Denis, em Montreuil (França).
Financiada pelo programa Conexão Cultura do Distrito Federal e pelo Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal (Secec-DF), a etapa de concepção do espetáculo contou com a contribuição da coreógrafa Luciana Lara, como dramaturgista do projeto. Para a construção do pensamento sobre o espaço cênico, a assessoria foi do Coletivo EntreVazios. Os figurinos, são assinados por Marcus Barozzi. Já a trilha sonora foi composta pelo músico português, João Sarnadas e foi desenvolvida durante uma residência artística acolhida pela CRL – Central Elétrica, no Porto.
Serviço: Espetáculo coreográfico Sonâmbulo
Data: de 08/09 a 01/10.
Locais: CCBB Brasília — Centro Cultural Banco do Brasil, Teatro SESC Paulo Gracindo
e Espaço Cultural Renato Russo — 508 Sul.
Classificação para espetáculo: 12 anos.
Classificação para oficina: 16 anos.